Eu nasci de um pedregulho
Era bem noite cerrada
Assim que o sol nasceu
Devia ser madrugada
Logo a lua se escondeu
Foi uma grande pedrada
Dei meia volta na cama
Para ver o que acontecia
Encontrei o Jesus Cristo
Com a sua mãe, a Maria.
Estendi meus pequenos braços
Balancei minhas pernocas
Levei sorrisos, abraços
Sonhei que vi mil minhocas
Lá ao longe uma fogueira
Queima troncos ressequidos
Sai a água da torneira
Para aquietar meus bramidos
Fui embrulhada em farrapos
Negros, brancos de veludo
Tão macios eles eram
Deviam ser bem peludos.
Com teias se fazem brincos
De corações apertados
Há laços que ficam juntos
Tão doces e tão amargos
Rebuçados a cair
De uma janela aberta
Há que fazê-los subir
Como sobe a labareda.
Aqui expus as entranhas
De um sapo roedor
São tamanhas as façanhas
Ai Jesus nosso Senhor
De onde é que isto surgiu
Não interessa, não quero saber
Emprestei borracha e lápis
Depois foi só escrever
Uns dias são mais ligeiros,
Afortunados na escrita
Outros saem bem brejeiros
Que importa se fico aflita
Desesperada… a escrever
Cantei hinos
Chorei trombetas
Derramei a minha veia
Quando as coisas ficam pretas
Sai o canto da sereia.
Copyright © 2010 by MCéuNeves