domingo, abril 04, 2010

“Uma Cantiga”



Eu nasci de um pedregulho

Era bem noite cerrada

Assim que o sol nasceu

Devia ser madrugada

Logo a lua se escondeu

Foi uma grande pedrada

Dei meia volta na cama

Para ver o que acontecia

Encontrei o Jesus Cristo

Com a sua mãe, a Maria.

Estendi meus pequenos braços

Balancei minhas pernocas

Levei sorrisos, abraços

Sonhei que vi mil minhocas

Lá ao longe uma fogueira

Queima troncos ressequidos

Sai a água da torneira

Para aquietar meus bramidos

Fui embrulhada em farrapos

Negros, brancos de veludo

Tão macios eles eram

Deviam ser bem peludos.

Com teias se fazem brincos

De corações apertados

Há laços que ficam juntos

Tão doces e tão amargos

Rebuçados a cair

De uma janela aberta

Há que fazê-los subir

Como sobe a labareda.

Aqui expus as entranhas

De um sapo roedor

São tamanhas as façanhas

Ai Jesus nosso Senhor

De onde é que isto surgiu

Não interessa, não quero saber

Emprestei borracha e lápis

Depois foi só escrever

Uns dias são mais ligeiros,

Afortunados na escrita

Outros saem bem brejeiros

Que importa se fico aflita

Desesperada… a escrever

Cantei hinos

Chorei trombetas

Derramei a minha veia

Quando as coisas ficam pretas

Sai o canto da sereia.

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