É um espectáculo para os obreiros anónimos dos Direitos Humanos e para os milhões de vítimas do seu incumprimento. Como na obra poética de Ângela Almeida, procuramos deixar aqui o nosso grito, a nossa indignação, estamos aqui para dizer que estamos de luto porque mataram a humanidade.Pergunto-me: quem sou eu? Nasci num barco em alto mar, nasci em África, Ásia, Europa e América, sou apátrida, errante, miro-me no espelho da memória, olho-me e vejo uma mulher com marcas deixadas pelo tempo e pelos acontecimentos. Viajo continuamente em busca de um pedaço de terra e alimento-me dela, profundamente me enraízo nela, buscando a força e a seiva de que me nutro. Não tenho idade, procuro um lugar onde haja amor, paz, serenidade, alegria, onde não exista ódio nem rancor. É uma busca constante, por uma terra rodeada pelo mar cálido e sereno, repleta de cores, cheiros e sabores que ficam para sempre dentro de nós, onde se vive com simplicidade e liberdade.Tenho a sabedoria apreendida da terra, da água, do fogo e do ar. Na minha pele correm todos os líquidos que ela absorve, todos os choros, todas as mortes. Sou andarilha, pertenço a todos os lados, os meus olhos absorvem já toda a glória e todas as misérias do MundoPosso ser alegre e bem disposta, apaziguar os corações solitários, carentes de afecto. Posso deixar um rasto de amor, paz, felicidade, conforto interior. Posso partir, ficar, partir para não mais voltar, sobreviver, lutar, rasgar os horizontes, cumprir destinos inconformados com a pequenez desse mundo em transformação. Posso semear grãos para que cresçam, floresçam, se desenvolvam e reproduzam para dar lugar à terra que busco.Vim para indicar o caminho da verdade interior. O amor corre-me nas veias. Por isso, sofro todas as dores e rio todas as alegrias. Sou cigana, sacerdotisa do tempo, sou desterrada, sou uma voz, um grito, sou mulher!Um encontro feliz dos “ditirambus” com a beleza da poesia insular e ao mesmo tempo universal de Ângela - da poesia com a dramaturgia: a arte de bem dizer.
Ficha Técnica
Texto original
Ângela Almeida
Adaptação e Encenação
Onivaldo Dutra
Elenco
Manuela Gomes, Lurdes Castanheira, Cátia Correia e Céu Neves
Cenário, Banda Sonora, Desenho de Luz
Onivaldo Dutra
Figurinos e Adereços
Céu Neves
Operador de Som
António Valente
Operador de Luz
Pedro Araújo
Art Design
J. Canadinhas / Marco Mascarenhas
Realização
Ditirambus – Associação Cultural e Pesquisa Teatral
Local
Teatro Ibérico – Rua de Xabregas, 54 – Beato – Lisboa
Reservas
218128528 / 919097077 / 218682531
Classificação M/12
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